Bárbara Kirmes, Camila Rodrigues Gonçalves, Ian de Oliveira Martins e Sabrina Peterle da Silva
Composto por 16.500 spp. descritas, que são colocadas em duas classes: Polychaeta e Clitelata, onde a ultima possui as subclasses Oligochaeta e Hirudinea, o filo Annelida compreende os animais segmentados, bilateralmente simétricos e inclui as familiares minhocas e sanguessugas, além de várias espécies marinhas e de água doce, as quais a maioria das pessoas desconhece por completo. Em geral, os anelídeos atingem o maior tamanho entre os invertebrados vermiformes. São alongados e de tamanho variável. Uma característica distinguível do filo é a segmentação (metamerismo), divisão do corpo em partes semelhantes, ou segmentos, que se arranjam em uma série linear ao longo do eixo ântero-posterior. A segmentação é refletida internamente pelo arranjo metamerizado dos órgãos e sistemas constituintes. Ela tem origem no desenvolvimento teloblástico, proliferação de bandas mesodérmicas segmentares pareadas a partir de células teloblásticas localizadas numa zona posterior de crescimento do embrião.
Na condição primitiva, cada segmento contém uma parte dos sistemas circulatórios, nervoso e excretor, além dos compartimentos celômicos este arranjo dos anelídeos reflete o príncipio da compartibilidade de sistemas, condição essencial para o sucesso de qualquer Bauplan. Dado ao relativo isolamento dos segmentos corporais oferecido pela presença dos septos, cada um contém parte dos sistemas necessários para suprir suas necessidades. Deste modo, pode-se atribuir muito do sucesso de anelídeos à sua escapada evolutiva das limitações do Bauplan celomado não segmentado. A parte segmentada do corpo sempre se limita ao tronco. Existem duas linhas de pensamento em relação a divisão da cabeça (que contém o cérebro), uma diz que a cabeça encontra-se representada pelo prostômio e outra que ela é composta pelo prostômio e o peristômio, enquanto o pigídio é a parte terminal do corpo que porta o ânus. O prostômio e o pigídio não são considerados segmentos porque não surgem da zona de crescimento segmentar, mas, em vez disso, das regiões pré-trocal e pigidial do corpo larval. As cerdas epidérmicas laterais, pareadas e quitinosas são uma sinapomorfia de Annelida. Estão presentes em cada segmento e aumentam a tração com o substrato, durante a locomoção.
Os anelídeos, como quase todos os invertebrados grandes, possuem um tipo de cavidade corporal chamado de celoma. Embora o celoma possa se encontrar reduzido ou ausente no adulto, como nos artrópodos, ainda se encontra presente no embrião. Seu celoma surge durante o desenvolvimento embrionário como uma cavidade dentro da mesoderme, pela divisão de uma massa de células mesodérmicas (esquizocelia), como os demais organismos protostômios. Apresentam no seu ciclo de desenvolvimento a larva trocófora, uma larva planctônica, de habitat pelágico, não sendo exclusiva desse grupo, também presente em outros invertebrados como moluscos, todos protostômios.
Apresentam um trato digestório mais ou menos reto, com boca anterior e ânus posterior. O intestino encontra-se suspenso dentro do celoma por meio de mesentérios longitudinais e dos septos. A digestão é extracelular e os nutrientes são absorvidos pelas células da parede intestinal. O material não aproveitado é eliminado pelo ânus.
A excreção é executada pelos nefrídios, que é um túbulo fino e enovelado, com um funil ciliado em uma extremidade, o nefróstoma, o qual se abre na cavidade celomática. A outra extremidade do nefrídio, o nefridióporo (poro excretor), se abre na superfície do corpo do animal. Há um par de nefrídios e de poros excretores em cada segmento corporal. O nefróstoma remove as excreções que as células lançam no fluido celômico, enquanto o túbulo enovelado retira as excreções diretamente do sangue que circula nos capilares ao seu redor. As excreções recolhidas pelos nefrídios são eliminadas para o exterior através dos nefridióporos.
Apresentam sistema circulatório fechado, ou seja, o sangue nunca sai dos vasos sanguíneos. Os vasos principais são longitudinais e percorrem todo o comprimento do corpo. Existe um grande vaso dorsal, que conduz o sangue em direção à região anterior do corpo, e dois vasos ventrais, que conduzem o sangue em sentido inverso. Esses grandes vasos estão ligados a redes de finos vasos capilares, que irrigam as diversas partes do corpo. Alguns anelídeos, em vez de hemoglobina, possuem hemocianina, para o transporte de gás oxigênio. Este pigmento respiratório tem a cor azulada devido à presença de cobre em sua estrutura.
Classe Polychaeta
Presume-se que os poliquetas incluem os membros mais primitivos de Annelida. Quase todos os animais que compõem esta classe são marinhos e vivem em habitats da zona entremarés a profundidades extremas, embora uns poucos habitem águas salobra ou doce, e no mínimo duas espécies vivam na terra. Há cerca de 8.000 espécies descritas, com grande diversidade de formas corporais e estilos de vida. A maioria tem menos de 10cm de comprimento, com um diâmetro que varia de 2 a 10mm, e os comprimentos corporais de 70 cm. Muitos poliquetas são incrivelmente bonitos, coloridos de vermelho, rosa ou verde, ou de uma combinação de cores.
O poliqueta generalizado é perfeitamente segmentado, com segmentos corporais cilíndricos idênticos, cada um com um par de apêndices carnosos laterais e semelhantes, chamados de parapódios. Na extremidade anterior do animal encontra-se um prostômio bem desenvolvido, que porta órgãos sensoriais. A boca situa-se ventralmente entre o prostómio e o primeiro segmento do tronco (peristómio). No entanto, os diferentes estilos de vida dos poliquetas fazem com que esta estrutura de base sofra vários graus de modificação. A região não-segmentada terminal (pigídio) porta o ânus. No entanto, poucos poliquetas possuem tal estrutura típica. A forma do corpo de poliquetas reflete seus hábitos e hábitats. Predadores caçadores ativos (errantes) incluem algumas espécies estritamente pelágicas algumas que rastejam por baixo de rochas e conchas (por exemplo, Phyllodocidae, Glyceridae, Syllidae, Nereididae) e alguns cavadores comedores de depósitos (por exemplo, Lumbrineridae) que são caracterizados por uma construção corporal mais ou menos homônoma, ou seja, a maior parte do corpo é dividido em segmentos iguais. Também possuem muitas espécies sedentárias (por exemplo, Sabellidae, Surpelidae, Spirorbinae) que constroem e vivem em buracos, galerias ou tubos estabilizados de graus variados de complexidade.
As espécies túbicolas obrigatórias, geralmente, não podem deixar os tubos e só podem projetar as suas cabeças através das aberturas dos tubos. Apresentam sistema circulatório fechado. Apenas algumas das partes de seu trato digestivo absorvem produtos alimentares digeridos, é essencial que um mecanismo circulatório esteja presente, para transporte e distribuição de nutrientes. Além disso, muitos poliquetas possuem as suas estruturas para trocas gasosas limitadas a regiões do corpo em particular, portanto, eles dependem do sistema circulatório para o transporte interno de gases.
Os poliquetas têm uma variedade de adaptações locomotoras, dependendo do seu estilo de vida e do “design” do corpo. Fornecem um exemplo clássico da utilização dos espaços celômicos como um esqueleto hidrostático para a sustentação do corpo. Associada a musculatura bem desenvolvida, ao plano corporal metamerizado e aos parapódios, esta qualidade hidrostática fornece a base para a locomoção e compreensão da locomoção nestes animais. Podem apresentar os seguintes movimentos: ondulação, escavação e peristaltismo.
A grande diversidade de formas e funções encontradas em poliquetas permitiu-lhes explorar praticamente todas as fontes alimentares marinhas, de uma maneira ou outra. Classifica-se os poliquetas em raptoriais, onde os mais familiares são os predadores caçadores (por exemplo, muitos filodocídeos, silídeos e nereidídios), comedores de depósitos e de suspensões, que ingerem o substrato e digerem o material orgânico nele contido (por exemplo, membros das famílias Arenicolidae, Opheliidae e Maldanidae). Entretanto, há vários métodos alimentares e preferências alimentares dentro de cada uma destas divisões básicas.
Os órgãos excretores dos poliquetas são nefrídios filtradores, que se distribuem, em geral, como um par por segmento, mas a redução a poucos ou mesmo a presença de um par para o organismo inteiro ocorreu em algumas famílias. Os principais órgãos sensoriais especializados dos poliquetas são os olhos, os órgãos nucais e os estatocistos. Os olhos, que se desenvolvem melhor nos poliquetas errantes, são encontrados na superfície do prostômio em dois, três ou quatro pares. Em geral, o olho dos poliquetas é da variedade de taça retiniana, cuja parede é composta de fotorreceptores em forma de bastão, células pigmentares e de sustentação. O cérebro dos poliquetas, geralmente bilobado, repousa no prostômio por baixo do epitélio dorsal. Dependendo do grau de desenvolvimento dos órgãos sensoriais, o cérebro fornece nervos para os palpos, as antenas, os olhos e os órgãos nucais.
A classe mostra vários graus de capacidade regenerativa. Quase todos eles são capazes de regenerar apêndices perdidos, como palpos, tentáculos, cirros e parapódios. A maioria deles também é capaz de regenerar segmentos da parte posterior do corpo se o tronco for seccionado. Há muitos casos excepcionais dos poderes regenerativos de poliquetas. Enquanto a regeneração da extremidade posterior é comum: a maioria não é capaz de regenerar cabeças perdidas. Entretanto, sabelídeos, silídeos e alguns outros podem regenerar a extremidade anterior.
Conhece-se a reprodução assexuada em alguns poliquetas (por exemplo, vermes-leque), ela ocorre por brotamento ou divisão do corpo em duas partes ou em vários fragmentos. A maioria dos poliquetas se reproduz somente sexuadamente, e a maioria das espécies é dióica. As gônodas de poliquetas são geralmente órgãos distintos, mas dependendo da espécie, variam em posição e número. Em geral, ocorre no tecido conjuntivo associado com estruturas tais como septos, vasos sanguíneos e o revestimento do celoma. A epitoquia é um fenômeno reprodutivo característico de alguns poliquetas e especialmente bem conhecido em nereidídeos, nos silídeos e nos eunicídeos. A epitoquia é a formação de um individuo reprodutivo pelágico ou epítoco, que é adaptado para deixar as habitações no fundo. As modificações epitoquianas incluem alterações na formação da cabeça, na estrutura dos parapódios e das cerdas, no tamanho dos segmentos e na musculatura segmentar. Os indivíduos epitoquianos surgem a partir de um átoco não-reprodutivo, seja por meio de uma transformação direta do individuo inteiro (como em nereidídeos), seja por meio de uma transformação e de uma separação da extremidade posterior do átoco (como nos eunicídeos e nos silídeos).
Os eventos reprodutivos dos poliquetas são regulados por hormônios. Estes são neurossecreções produzidas pelo cérebro ou, no caso dos silídeos, pelos elementos nervosos do intestino anterior aspirador. Em alguns deles, tais como nereidídeos e silídeos (que se reproduzem somente uma vez e depois morrem), o hormônio regula todo o estado reprodutivo, ou seja, tanto a reprodução de gametas como o desenvolvimento das características epitoquinianas. Nos vermes que se reproduzem mais de uma vez, exige-se um hormônio para o desenvolvimento dos gametas (especialmente para os óvulos) e o seu efeito limita-se enormemente a esse processo.
O ovo dos poliquetas contém uma quantidade variável de gema, dependendo da espécie, e a clivagem é espiral e holoblástica. Após a gastrulação, o embrião desenvolve-se rapidamente em uma larva trocoforal em forma de pião. O maior desenvolvimento das estruturas larvais é obtido nas trocóforas planctotróficas, aquelas que se alimentam de plâncton. A metamorfose dos poliquetas transforma a trocófora em uma forma corporal juvenil. A característica mais evidente da metamorfose é o alongamento gradual da zona de crescimento, a região entre a boca e o telotroco, à medida que os segmentos do tronco se formam e se desenvolvem.
A. Eumida (Phyllodocidae) (Fonte: https://spineless.ucsd.edu/SIOgalleries/Belize/pages/Eumida_(Phyllodocidae).htm); B. Hypsicomus (Sabellidae) (FONTE: https://spineless.ucsd.edu/SIOgalleries/Belize/pages/Hypsicomus_(Sabellidae).htm); C. Lumbrineridae (FONTE: https://researchdata.museum.vic.gov.au/polychaetes/Lumbrineridae/description.htm); D. Opheliidae (FONTE: https://calphotos.berkeley.edu/cgi/img_query?enlarge=4444+4444+0113+2525); E. Nereidídios (FONTE: https://invertebrates.si.edu/Features/families/polychaeta.html)
Classe Clitellata
Subclasse Oligochaeta
Contém cerca de 6800 espécies, e compreende o grupo terrestre das minhocas, embora existam muitos em ambientes dulcícolas e poucos representantes marinhos. Os oligoquetas aproximam-se dos poliquetas em tamanho. Acredita-se que os oligoquetas evoluíram diretamente dos anelídeos marinhos ancestrais e escavadores. Os primeiros organismos deste grupo eram, provavelmente, escavadores de sedimentos de água doce.
Nos oligoquetas, a segmentação é bem desenvolvida, os parapódios encontram-se ausentes. O prostômio é geralmente um pequeno lobo redondo, com menor quantidade de apêndices sensoriais. O peristômio, freqüentemente incorpora alguns segmentos corporais anteriores e o pigídio encontra-se posteriormente ao tronco metamerizado e porta o ânus. Poucas espécies apresentam cerdas e as que apresentam são de pontas simples, bífidas e pectiniformes. As cerdas de minhocas projetam-se somente a curtas distâncias e distribuem-se em sacos, lateralmente a cada segmento. Em geral apresentam poucas cerdas, sendo a origem do nome do grupo Oligochaeta = “poucas cerdas”, porém todas as cerdas são moveis uma habilidade usada para cavar. Externamente o corpo pode ser homônomo ou incluir alguma especialização, como brânquias.
A parede corporal apresenta uma cutícula fina sobre a pele, que é geralmente um epitélio colunar contendo diversas células glandulares mucossecretoras. Pode haver ocorrência de cílios. Os músculos circulares são bem desenvolvidos e os septos intersegmentares são geralmente bem avantajados. Eles são, na maioria, funcionalmente completos, exceto nas extremidades anterior e posterior.
Os oligoquetas dependem muito do seu esqueleto hidrostático bem desenvolvido tanto para o suporte, quanto para a locomoção. A contração muscular circular e o conseqüente alongamento dos segmentos são mais importantes no rastejamento e sempre geram um pulso de pressão do fluido celômico. Na ausência dos remos parapodiais, os oligoquetas dependem de peristalse e manipulação pelas cerdas para cavar, para se mover através dos sedimentos ou para rastejar sobre superfícies.
Os oligoquetas mostram modos alimentares especializados, que evoluíram em associação a seus habitats particulares e exploração de diversas fontes de alimento. A maioria das espécies são detritívoras ou comedora direta de depósitos, algumas são predadoras. Minhocas também podem puxar folhas para debaixo da terra para ingestão.
O sistema digestório é relativamente simples sendo basicamente um tubo reto, com vários graus de especialização regional, particularmente em direção a região anterior. A boca é situada por baixo do prostômio, logo o alimento vai a uma faringe mais espaçosa.
A moela é utilizada para triturar mecanicamente o material ingerido. É revestida com uma cutícula e é muito muscular. O papo tem uma parede fina e funciona como uma câmara de armazenamento. O material não digerido sai pelo ânus, como pelotas fecais características.
O sistema circulatório dos oligoquetas sofreu adaptações para a vida em ambientes terrestres e de água doce, áreas em que, geralmente, estão sujeitos a um estresse fisiológico maior do que ambientes marinhos. O maior vaso sanguíneo longitudinal é o vaso dorsal, a parede deste vaso é muito espessa e muscular e fornece muito da força bombeadora para o movimento do sangue. Suspenso pelo mesentério, abaixo do trato digestivo, está o vaso ventral longitudinal. O terceiro vaso longitudinal fica ventralmente ao cordão nervoso e é chamado vaso subneural. Os vasos não têm endotélio e são revestidos pela lamina basal do peritônio sobrejacente. Trocas entre os vasos longitudinais ocorrem a cada segmento através de diversas rotas que levam o sangue à parede do corpo, trato digestório e nefrídios. A maioria das trocas entre o sangue e os tecidos ocorre através de redes capilares, alimentadas por vasos aferentes e eferentes. O sangue flui em direção posterior nos vasos ventral e subneural, e anteriormente no vaso dorsal.
A excreção dos oligoquetas fica por conta dos metanefrídeos pareados, dispostos segmentarmente em todos os segmentos, exceto naqueles das extremidades anterior e posterior. Um nefrídio típico de oligoqueta é composto por um nefrostômio pré-septal, um canal curto que penetra pelo septo e um nefridioduto pós-septal, que é variavelmente enrolado e, algumas vezes, dilatado formando uma bexiga. Os nefridíóporos, geralmente se localizam ventrolateralmente, em cada segmento. Os oligoquetas aquáticos são amoniotélicos, ou seja, secretam amônia, porém a maioria das formas terrestres são parcialmente ureotélica. Os resíduos são transportados aos nefrídeos via sistema circulatório e por difusão através do fluido celômico. A superfície permeável úmida necessária para as trocas gasosas e os gradientes osmóticos severos através da parede do corpo, impõe problemas potencialmente sérios de perda de água para as formas terrestres, e de ganho de água para as formas de água doce: em ambos os casos ocorre a perda de sais preciosos em solução.
O sistema nervoso central de anelídeos inclui um gânglio cerebral dorsal, conectivos circum-entéricos pareados e um, ou mais, cordões nervosos longitudinais ventrais. Com a redução da cabeça em oligoquetas, o gânglio cerebral ocupa uma posição mais posterior. Existem dois cordões nervosos ventrais fundidos, situados internamente às camadas musculares da parede corporal. Os conectivos circum-entéricos e os gânglios segmentares originam nervos motores e sensoriais para a parede do corpo e para diversos órgãos a cada segmento. A ação independente, mas coordenada de cada segmento durante a locomoção depende de uma série de reações e estímulos e resposta que envolve os gânglios segmentares. Se este for retirado, todo o movimento cessa, todavia, se o gânglio cerebral for removido o movimento continua, porém não ocorre resposta a estímulos externos. Os oligoquetas também possuem células especiais dentro da musculatura da parede do corpo que servem como receptores de tensão. Estes animais não têm olhos, exceto quanto a algumas formas aquáticas que têm ocelos em taça pigmentar simples. Os grupos de células sensoriais que forma um tubérculo em projeção, com processos sensoriais que se estendem acima da cutícula, parecem ser os quimiorreceptores que são importantes para a localização e seleção alimentar.
A habilidade de oligoquetas para regenerar partes do corpo varia muito entre espécies. Muitos podem regenerar praticamente qualquer parte do corpo perdida e podem formar novamente tanto a parte anterior, quanto à posterior, enquanto outros têm capacidade de regeneração muito baixa. Geralmente, é mais fácil regenerar os segmentos posteriores do que os anteriores. As espécies de oligoquetas tendem a ter o numero de segmentos corporais mais fixo, uma condição que tem implicações no processo de regeneração. Os animais regenerados tendem a apresentar o mesmo numero de segmentos do animal original e atribui-se isso a uma polaridade da parte anterior para a posterior. A maioria dos oligoquetas de água doce é capaz de se reproduzir assexuadamente. Em alguns, a reprodução sexuada é muito rara, e nuns poucos pode efetivamente não ocorrer. A reprodução assexuada geralmente ocorre do início até a metade do verão, de maneira que os animais se aproveitem de temperatura amena e da abundancia de alimento.
Os indivíduos reproduzem-se assexuadamente por uma ou mais formas de fissão transversal. Em alguns, ocorre fragmentação em um ou vários pontos ao longo do corpo, seguido por regeneração de cada fragmento, até formar um novo animal. Em outros, são produzidos brotos no corpo parental, como “precursores dos filhotes”, e uma vez que os novos indivíduos estejam parcialmente formados, ocorre a fissão e os filhotes se libertam.
O sistema reprodutivo de oligoquetas é extremamente especializado, na maioria dos grupos aquáticos, existe geralmente um segmento ovariano, seguido por um testicular. Os segmentos que contém gônadas situam-se na metade anterior do verme e os segmentos femininos situam-se por trás dos segmentos masculinos. Os ovários e os testículos situam-se nos segmentos genitais na parte inferior do septo anterior e projetam-se para o interior do celoma. A maturação dos gametas restringe-se tipicamente a bolsas celômicas especiais chamadas vesículas seminais. O clitelo é uma estrutura reprodutiva característica de oligoquetos, e corresponde a segmentos adjacentes nos quais a epiderme fica enormemente inchada com glândulas unicelulares que formam uma cintura que envolve, parcial ou completamente, o corpo.
Durante a reprodução sexuada, a cópula ocorre quando os parceiros alinham os seus corpos em direções opostas, e secreções mucosas do clitelo os mantém nessa postura copulatória. Muitos se alinham de forma que os gonóporos masculinos fiquem alinhados com as espermatecas do outro e contam com a ajuda de cerdas copulatórias especiais que ajudam a ancorar os animais juntos.
Reprodução (FONTE: https://anelidas29.blogspot.com.br)
No desenvolvimento, os ovos dos grupos aquáticos contêm quantidade relativa de vitelo e as espécies terrestres têm ovos muito menores e com muito menos vitelo, de modo que a albumina é responsável por suprir a maior parte das exigências nutritivas embrionárias.
Oligoquetas tubificídeos. Fotos de Marne Campos.
Oligoqueta naidídeo. Reparem no corpo segmentado e nas finas cerdas (setae).
Oligoqueta Dero e Aelosomata em um aquário. Foto de Walther Ishikawa.
Subclasse Hirudinoidea
Contém cerca de 500 espécies de animais marinhos, de água doce e terrestre, comumente conhecidos como sanguessugas. Embora todos sejam popularmente considerados hematófagos, um grande número de sanguessuga não é ectoparasita. As sanguessugas são, certamente, os anelídeos mais especializados. Não apresentam parapódios e apêndices de cabeça, são hermafroditas, com gônadas e gonodutos restritos a poucos segmentos, e apresentam desenvolvimento direto com casulos secretados pelo clitelo. Relativamente poucas espécies toleram correntes rápidas, a maioria prefere as correntes lentas de lagoas e lagos raso, com vegetação na margem.
A anatomia da sanguessuga é notadamente uniforme. O corpo é tipicamente achatado dorsoventralmente e, frequentemente se afunila na extremidade anterior. Os segmentos em ambas as extremidades se modificaram para formar ventosas. A ventosa anterior é geralmente menor que a posterior e frequentemente circunda a boca. Ao encontrar um hospedeiro, o animal se fixa com o auxílio das ventosas e perfura a pele sem provocar dor. Pela ação da musculatura da faringe, ela ingere sangue, que não coagula em virtude de uma substância anticoagulante chamado hirudina, produzida por suas glândulas salivares. As sanguessugas apresentam um número fixo de segmentos, 32 ou 34, mas as anelações externas secundárias escondem a segmentação original. As cerdas encontram-se ausentes e a cabeça ou a região cefálica contém o prostômio reduzido mais quatro segmentos corporais.
A digestão do sangue é lenta, e depende das exopeptidases produzidas pela sanguessuga e de uma flora bacteriana simbiótica. A segmentação reflete-se internamente nos nefrídeos e nos gânglios do cordão nervoso ventral. As brânquias encontram-se geralmente ausentes, e o sistema sanguíneo vascular é semelhante ao dos outros anelídeos ou foi substituído por canais celômicos.
A reprodução é semelhante a dos oligoquetas, mas algumas espécies transferem os espermatozóides por meio da impregnação hipodérmica com espermatóforos. O sistema nervoso das sanguessugas é semelhante ao dos outros anelídeos, mas os gânglios anteriores e posteriores concentram-se devido às modificações segmentares que formam as ventosas. O cérebro consiste de uma massa de tecido neural no prostômio e dos primeiros pares de gânglios segmentares ventrais fundidos.
FONTE: https://sociedade-e-seresvivos.blogspot.com.br/2011/03/ery.html.
FONTE: https://biodidac.bio.uottawa.ca/thumbnails/filedet.htm?File_name=HIRU002P&File_type=GIF.
Curiosidades
- Existem 86 espécies de oligoquetas nos ambientes aquáticos brasileiros.
- Poliquetas como os da família Spionidae, podem ser bioindicadores de poluição porque conseguem se desenvolver massivamente em lugares com muita matéria orgânica, como praias impróprias pra banho, por exemplo.
- Existe uma espécie de minhoca, a Lumbricus terrestres, que consegue cavar túneis em concretos.
- Minhocas aram o solo criando passagens para o ar circular e ao digerirem as partículas de solo e nutrientes, liberam as fezes, chamada húmus, que fertilizam o solo. Tanto a minhoca em si, quanto o húmus tem grande valor, inclusive econômico, para agricultura. Por este motivo já foram considerados ‘animais sagrados’ pelos egípcios.
- Minhocas podem ser utilizadas como alimento, sendo apreciadas em cozinhas exóticas, como China e Taiwan, por conter um sabor adocicado e levemente terroso.
- Minhocas conseguem transformar as fezes humanas dos esgotos em adubo inodoro, além de conseguirem ajudar a limpar áreas com depósito de PCB (presente na composição de tintas e plásticos), pois as bactérias que decompõem esse produto crescem nos túneis feitos por elas.
- Enzimas e outras substâncias que compõem a minhoca estão sendo estudadas para a produção de remédios para o câncer de próstata, de antibióticos e até tratamentos para o envelhecimento.
- A presença das mesmas espécies de minhoca em lugares diferentes do mundo, tem sido considerada como um ponto a favor da teoria do super continente original, a Pangea.
- Muitos dos artigos que os arqueólogos encontram foram enterrados por minhocas.
- As sanguessugas podem ser utilizadas para avaliar as condições ecológicas do ambiente, com pH, oxigênio dissolvido e temperatura, porque cada espécie precisa de um determinado conjunto de fatos para se desenvolver no ambiente.
- As hirudíneas têm sido testadas como meio de controle de doenças como a esquistossomose, porque a sanguessuga tende a se alimentar das larvas dos hospedeiros intermediários do verme.
- O registro mais antigo do uso de sanguessugas para propósitos medicinais aparece em uma pintura encontrada em uma tumba egípcia, de cerca de 1500 anos aC. Hoje são utilizados em tratamentos médicos alternativos, como os tratamentos orientais, apesar de já haverem estudos com as mesmas, na medicina tradicional, em pessoas com difícil circulação sanguínea ou que apresentam pontos onde o sangue não circula, pois elas “sugam” o sangue “preso” e ainda liberam substâncias anticoagulantes.
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